Inês Gregório, licenciada em História da Arte pela Universidade do Porto, é uma das jovens "à rasca", desempregada e que com 29 anos diz nunca ter tido "o prazer de assinar um contrato de trabalho" na área em que se formou. À Agência Lusa, Inês contou que acabou a licenciatura em 2004, mas trabalhar na área para a qual estudou, "que era bom, nada". "Fiz apenas umas visitas guiadas aos fins-de-semana, um mês aqui, outro muito além", disse. Inês já não vive com os pais, mas também não vive sozinha, porque "é impossível sustentar uma casa sem trabalho seguro". Optou por viver com duas amigas. "É uma falsa sensação de independência, mas não tenho asas para mais", explicou Inês..Esta "jovem à rasca", como se auto-intitula, chegou a ter um "trabalho mais ou menos seguro" graças a um contrato de seis meses como secretária de contabilidade. "Odiava o que fazia. Arquivava faturas o dia todo e não conseguia investir na minha formação. Pelo menos recebia algum. Mas durou pouco a fartura", contou. Um dia, Inês tinha acabado de chegar do almoço e foi "dispensada, já para a parte da tarde". "Pagaram-me o que me deviam, já foi mais do que em muitos outros casos", desabafou a jovem. Depois desta experiência, como já ia no segundo contrato de seis meses, teve direito ao Rendimento Social de Inserção, "uma fortuna, 300 euros". "Para quem pagava 350 euros de renda, já só faltavam 50", disse..Inês Gregório reconheceu que "muita da culpa" da situação em que esta geração está é dela própria. "Durante anos fomos cúmplices. Aceitámos condições vergonhosas de trabalho, sem reivindicar. Agora somos uma geração tendencialmente frustrada e não há Campeonato do Mundo de Futebol que nos recupere a autoestima", afirmou. Chegou ao grupo dos "à rasca" através do FaceBook: "recebi o convite para a manifestação, entrei com contacto com os organizadores em Lisboa e num ápice se reuniu um grupo de 25 pessoas". Destes 25, "24 estão em situações precárias. Desempregados, na maioria, recibos verdes, dos falsos e três dizem ser "pré-emigrantes". A vigésima quinta, esclarece Inês, "é a infiltrada. Tem contrato de trabalho e está nisto pela solidariedade para com o resto da malta à rasca". Para o grupo, "sucesso" na manifestação marcada para sábado seria "encher as ruas do Porto e ter pessoas suficientes para encher a Avenida dos Aliados", explicou Inês Gregório.